SE
Rudyard
Kipling Joseph (1865-1936) - tradução de Guilherme de Almeida
Se
és capaz de manter a tua calma quando /
Todo
o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa; /
De
crer em ti quando estão todos duvidando, /
E
para esses no entanto achar uma desculpa;/
Se
és capaz de esperar sem te desesperares,/
Ou,
enganado, não mentir ao mentiroso,/
Ou,
sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,/
E
não parecer bom demais, nem pretensioso;/
Se
és capaz de pensar -- sem que a isso só te atires,/
De
sonhar -- sem fazer dos sonhos teus senhores./
Se
encontrando a desgraça e o triunfo conseguires/
Tratar
da mesma forma a esses dois impostores;/
Se
és capaz de sofrer a dor de ver mudadas/
Em
armadilhas as verdades que disseste,/
E
as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,/
E
refazê-las com o bem pouco que te reste;/
Se
és capaz de arriscar numa única parada/
Tudo
quanto ganhaste em toda a tua vida,/
E
perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,/
Resignado,
tornar ao ponto de partida;/
De
forçar coração, nervos, músculos, tudo/
A
dar seja o que for que neles ainda existe,/
E
a persistir assim quando, exaustos, contudo,/
Resta
a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";/
Se
és capaz de, entre a plebe, não te corromperes/
E,
entre reis, não perder a naturalidade,/
E
de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,/
Se
a todos podes ser de alguma utilidade,/
E
se és capaz de dar, segundo por segundo,/
Ao
minuto fatal todo o valor e brilho,/
Tua
é a terra com tudo o que existe no mundo/
E
o que mais -- tu serás um homem, ó meu filho!