07/01/2019

SE

SE
Rudyard Kipling Joseph (1865-1936) - tradução de Guilherme de Almeida
 
Se és capaz de manter a tua calma quando /
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa; /
De crer em ti quando estão todos duvidando, /
E para esses no entanto achar uma desculpa;/
Se és capaz de esperar sem te desesperares,/
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,/
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,/
E não parecer bom demais, nem pretensioso;/
 
Se és capaz de pensar -- sem que a isso só te atires,/
De sonhar -- sem fazer dos sonhos teus senhores./
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires/
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;/
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas/
Em armadilhas as verdades que disseste,/
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,/
E refazê-las com o bem pouco que te reste;/
 
Se és capaz de arriscar numa única parada/
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,/
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,/
Resignado, tornar ao ponto de partida;/
De forçar coração, nervos, músculos, tudo/
A dar seja o que for que neles ainda existe,/
E a persistir assim quando, exaustos, contudo,/
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";/
 
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes/
E, entre reis, não perder a naturalidade,/
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,/
Se a todos podes ser de alguma utilidade,/
E se és capaz de dar, segundo por segundo,/
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,/
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo/
E o que mais -- tu serás um homem, ó meu filho!

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