08/05/2024

OSHO: CRENÇA, DÚVIDA E FANATISMO

"Então, que pecado a humanidade cometeu para que Jesus precisasse vir para a salvação do mundo?

"Gostaria de deixar absolutamente claro a você que não é necessária nenhuma salvação.

Em segundo lugar, se você sente que há qualquer necessidade, ela não pode ser satisfeita por ninguém, exceto por você mesmo. Em terceiro lugar, você não está vivendo em pecado, está vivendo na natureza — mas, se a natureza é condenada, você começa a se sentir culpado. E esse é o ofício dos sacerdotes: fazê-lo se sentir culpado.

Eu não acho que Jesus tenha dito que seu sacrifício na cruz foi para salvar o mundo dos pecados do homem. Os sacerdotes devem ter imposto suas ideias sobre Jesus. O Novo Testamento foi escrito séculos depois, e depois ao longo de mais séculos ele foi editado, modificado, e as palavras que Jesus falou foram ditas em uma língua que não está mais viva, o aramaico. Não foram proferidas em hebraico ou em um dialeto do hebraico. Quando as palavras de Jesus foram traduzidas — primeiro para o latim —, uma grande mudança aconteceu: elas perderam sua qualidade original, seu sabor. Elas perderam algo muito essencial: a sua alma. E quando do latim foram traduzidas para o inglês, algo foi, mais uma vez, perdido.

Por exemplo, há algumas palavras sobre as quais você pode meditar: arrepender-se é uma das palavras-chave, porque Jesus a usa repetidas vezes. Ele diz a seus discípulos: “Arrependam-se! Arrependam-se, porque o Dia do Juízo está se aproximando”. Ele repete isso tantas vezes que deve ter sido de um enorme valor para ele. Mas o que significa isso, “arrepender-se”? Pergunte ao sacerdote cristão e ele dirá: “Essa é uma palavra simples; todos sabem o que ela significa: arrepender-se de seus pecados, arrepender-se de sua culpa, arrepender-se de tudo aquilo que você fez”.

E o sacerdote pode ser de auxílio; ele pode ajudá-lo nas maneiras de você se arrepender. Mas a palavra arrepender-se não tem nada a ver com o arrependimento nesse sentido.

A palavra de Jesus para arrepender-se significa simplesmente “voltar para dentro”; não significa de modo algum arrependimento. “Voltar para dentro” — significa retornar à fonte, retornar ao seu próprio Ser. É esse o propósito da meditação: retornar à fonte, retornar ao centro do ciclone, retornar ao seu próprio Ser. Então você conseguirá ver a diferença.

Quando você usa a palavra arrepender-se, ela carrega em si algo feio — pecado, culpa, o padre, a confissão; esse é o clima da palavra arrepender-se. Mas a palavra aramaica significa simplesmente retornar à fonte, retornar! Retornar, não perder tempo.

E é isso que acontece com quase todas as palavras-chave.

É quase impossível entender Jesus através dos sacerdotes. A única maneira pura, a única maneira possível, é ir para dentro de si, retornar ao seu interior. Lá você encontrará a consciência crística. A única maneira de entender Cristo é se tornar um Cristo.

Nunca seja um cristão, seja um Cristo!

Nunca seja um budista, seja um Buda!

Nunca seja um hindu, seja um Krishna!

E se você quiser ser um Krishna, um Cristo ou um Buda, não precisará recorrer às escrituras nem precisará perguntar aos eruditos:

você terá de perguntar aos místicos como ir para dentro de si.

E é exatamente isso que estou fazendo aqui: ajudando-o a se tornar consciente de si.

E no momento em que você se conhecer ficará surpreendido — você nunca cometeu um pecado; o pecado é uma invenção do padre para criar a culpa em você.

Você não necessita de nenhuma salvação.

Tudo de que necessita é uma pequena sacudidela para poder acordar. Você não precisa de sacerdotes. Certamente precisa de pessoas despertas, porque só os despertos podem sacudir aqueles que estão dormindo profundamente e sonhando. E a humanidade precisa estar livre da culpa, livre da ideia de pecado, livre da ideia de arrependimento.

A humanidade precisa de inocência, e os sacerdotes não lhe permitem ser inocente; eles corrompem sua mente.

Cuidado com os sacerdotes. Foram eles que crucificaram Jesus… Como podem interpretar Jesus? Foram eles que sempre estiveram contra os budas – e a ironia é que, no fim, eles se tornaram seus intérpretes.”

OSHO. Crença, dúvida e fanatismo: é essencial ter algo em que acreditar? São Paulo: Planeta, 2015.

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