"Então, que pecado a humanidade cometeu
para que Jesus precisasse vir para a salvação do mundo?
"Gostaria de deixar absolutamente claro a
você que não é necessária nenhuma salvação.
Em segundo lugar, se você sente que há qualquer
necessidade, ela não pode ser satisfeita por ninguém, exceto por você mesmo. Em
terceiro lugar, você não está vivendo em pecado, está vivendo na natureza —
mas, se a natureza é condenada, você começa a se sentir culpado. E esse é o
ofício dos sacerdotes: fazê-lo se sentir culpado.
Eu não acho que Jesus tenha dito que seu
sacrifício na cruz foi para salvar o mundo dos pecados do homem. Os sacerdotes
devem ter imposto suas ideias sobre Jesus. O Novo Testamento foi escrito
séculos depois, e depois ao longo de mais séculos ele foi editado, modificado,
e as palavras que Jesus falou foram ditas em uma língua que não está mais viva,
o aramaico. Não foram proferidas em hebraico ou em um dialeto do hebraico.
Quando as palavras de Jesus foram traduzidas — primeiro para o latim —, uma
grande mudança aconteceu: elas perderam sua qualidade original, seu sabor. Elas
perderam algo muito essencial: a sua alma. E quando do latim foram traduzidas
para o inglês, algo foi, mais uma vez, perdido.
Por exemplo, há algumas palavras sobre as quais
você pode meditar: arrepender-se é uma das palavras-chave, porque Jesus a usa
repetidas vezes. Ele diz a seus discípulos: “Arrependam-se! Arrependam-se,
porque o Dia do Juízo está se aproximando”. Ele repete isso tantas vezes que
deve ter sido de um enorme valor para ele. Mas o que significa isso,
“arrepender-se”? Pergunte ao sacerdote cristão e ele dirá: “Essa é uma palavra
simples; todos sabem o que ela significa: arrepender-se de seus pecados,
arrepender-se de sua culpa, arrepender-se de tudo aquilo que você fez”.
E o sacerdote pode ser de auxílio; ele pode
ajudá-lo nas maneiras de você se arrepender. Mas a palavra arrepender-se não
tem nada a ver com o arrependimento nesse sentido.
A palavra de Jesus para arrepender-se significa
simplesmente “voltar para dentro”; não significa de modo algum arrependimento.
“Voltar para dentro” — significa retornar à fonte, retornar ao seu próprio Ser.
É esse o propósito da meditação: retornar à fonte, retornar ao centro do
ciclone, retornar ao seu próprio Ser. Então você conseguirá ver a diferença.
Quando você usa a palavra arrepender-se, ela
carrega em si algo feio — pecado, culpa, o padre, a confissão; esse é o clima
da palavra arrepender-se. Mas a palavra aramaica significa simplesmente
retornar à fonte, retornar! Retornar, não perder tempo.
E é isso que acontece com quase todas as
palavras-chave.
É quase impossível entender Jesus através dos
sacerdotes. A única maneira pura, a única maneira possível, é ir para dentro de
si, retornar ao seu interior. Lá você encontrará a consciência crística. A
única maneira de entender Cristo é se tornar um Cristo.
Nunca seja um cristão, seja um Cristo!
Nunca seja um budista, seja um Buda!
Nunca seja um hindu, seja um Krishna!
E se você quiser ser um Krishna, um Cristo ou
um Buda, não precisará recorrer às escrituras nem precisará perguntar aos
eruditos:
você terá de perguntar aos místicos como ir
para dentro de si.
E é exatamente isso que estou fazendo aqui:
ajudando-o a se tornar consciente de si.
E no momento em que você se conhecer ficará
surpreendido — você nunca cometeu um pecado; o pecado é uma invenção do padre
para criar a culpa em você.
Você não necessita de nenhuma salvação.
Tudo de que necessita é uma pequena sacudidela
para poder acordar. Você não precisa de sacerdotes. Certamente precisa de
pessoas despertas, porque só os despertos podem sacudir aqueles que estão
dormindo profundamente e sonhando. E a humanidade precisa estar livre da culpa,
livre da ideia de pecado, livre da ideia de arrependimento.
A humanidade precisa de inocência, e os
sacerdotes não lhe permitem ser inocente; eles corrompem sua mente.
Cuidado com os sacerdotes. Foram eles que
crucificaram Jesus… Como podem interpretar Jesus? Foram eles que sempre
estiveram contra os budas – e a ironia é que, no fim, eles se tornaram seus
intérpretes.”
OSHO. Crença, dúvida e fanatismo: é essencial ter algo em que acreditar? São Paulo: Planeta, 2015.